Você não é louca e não está sozinha, por Marcella Brafman




"Eu também imaginava como seria passar o resto da vida beijando o cara logo nos primeiros instantes do primeiro beijo. Imaginava ele acordando ao meu lado e eu usando um pijama vergonhoso de bichinho, mas logo já “des”imaginava e imaginava que na verdade eu usava um de renda vermelho. Imaginava ele conhecendo meus pais, colocando ração para o meu cachorro e fazendo fondue em uma máquina de fondue que eu nem tenho. Para te falar a verdade, nunca compraria uma máquina de fondue. Imaginava ele deixando de ir beber com os amigos e surgindo na minha porta com um bouquet de flores. É aí que a imaginação tirava os pés do chão. Então, já “des”imaginava tudo outra vez e imaginava a primeira briga. O beijo para fazer as pazes. O rosto esmagado de tanto dormir em uma manhã de domingo. Imaginava o sobrenome junto. A secretária eletrônica gravada com as nossas vozes. Mesmo que ninguém mais use secretária eletrônica. Não importa se eu nem tinha ouvido a voz dele. No maior dos níveis de imaginação, eu conseguia sentir e até cheirar a gola da camisa social que nem toquei.
Aí eu voava de novo. Imaginava a saudade, a paixão. Sentia enjôo e parava para imaginar a rotina ficando chata. Mas aí imaginava a gente se amando, e ele se ajoelhando, pedindo minha mão e abrindo o jornal para pesquisar um apartamento de duas vagas de garagem presas. Voltava a imaginar o casamento, os filhos, os olhos puxadinhos do Lucas, as sardinhas da Bianca. Imaginava ele no meio de uma praça de alimentação de shopping, contando histórias da época do colégio para fazer o menino parar de chorar. E também a viagem para Buenos Aires, para Cataratas do Iguaçu, para Ilhabela. A lua-de-mel, o carro com um porta-malas grande, a vida confortável e a sala aconchegante e quente. E tudo isso eu conseguia imaginar sem nem ter trocado uma palavra com quem quer que fosse “ele”. Pensei em ir ao médico, mas acho que ele apenas diria que imaginação não tem cura. E que no máximo sai um livro disso daí.
Mas acredito que não estou sozinha nessa. Sabe, colega, você não é louca. Somos mulheres de imaginação. E sonhos. "


Texto retirado do blog Sem Clichê




Comentários
5 Comentários

5 Comentários:

  1. Como dizia John Lennon "São tempos dificeis para os sonhadores." O seu texto foi muito tocante.

    http://ultraviolences.wordpress.com/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Grande John Lennon!
      É tocante mesmo né? Me identifiquei bastante, por isso postei aqui. Mas infelizmente não é de minha autoria, é da Marcella Brafman.
      Obrigada por visitar o Blog e comentar, espero lhe ver aqui mais vezes :)
      Beijo

      Excluir
  2. Me vi em cada linha,sou uma mulher de imaginação e muitos sonhos.Não é fácil ser assim,a gente acaba meio que idealizando as coisas,mas por outro lado isso nos faz ser especiais.
    Beijinhos !!

    http://poemadecadadia.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Verdade, mas quem nunca idealizou nada, não é verdade?
      Beijo e volte sempre, Laila :)

      Excluir
  3. Bem legal o texto... Somos mesmo muito imaginativas

    Beijos

    www.coresdodia.com

    ResponderExcluir

Já que já chegou até aqui, registre sua opinião. Leio todos os comentários e respondo sempre que possível. É muito importante e gratificante saber quem está lendo e o que está achando.
Deixe o link do seu Blog no final, com certeza farei uma visita!
Obrigada e volte sempre. :)

 
© Refúgio - 2012. Todos os direitos reservados.
Criado por: Cecília Maria.
Tecnologia do Blogger.
imagem-logo